Thursday, May 27, 2004

Não existe pessoa mais importante na minha vida que meu irmão. Tenho a impressão às vezes que ele é a única pessoa no mundo que nunca vai me decepcionar. Falo isso em especial depois dos últimos meses.

Meu irmão nunca vai julgar antes de me ouvir.
Ele nunca vai tomar decisões que me afetam sem me consultar.
Nunca vai avaliar minhas atitudes para depois rankeá-las.
Nunca vai fugir quando eu precisar dele.

E pode ter certeza que farei o mesmo por ti, meu velho.

Friday, May 21, 2004

Às vezes penso que o mundo seria muito melhor se todos tivessem Síndrome de Down. O estress reduzido ao mínimo. O cotidiano sempre vivido em paz. Transformar um simples passeio no coletivo em um motivo para sorriso. E o que é mais interessante: repassar esse sorriso para o rosto de estranhos completos à sua volta.

Pode ser que a tecnologia não fosse tão evoluída como é hoje, mas tenho a impressão que a simpatia e alegria dos que têm a trissomia do 21 é pra onde deveria caminhar a sensibilidade de nossa espécie.

Tuesday, May 18, 2004

Domingo foi meu aniversário. Tenho usado como chavão nos meus cumprimentos de aniversários alheios o seguinte: "Hoje vc vai receber votos de felicidade, saúde, sucesso, paz e desejos de bem-estar. São votos sinceros das pessoas mais importantes da tua vida. Sugiro que vc pegue todos os desejos e os coloque dentro de um chapéu. No decorrer do ano quando tiver um dia ruim, vá até o chapéu e retire uns dois ou três votos. Dê uma lida e tudo ficará bem. Porque você vai perceber que o que realmente importa na vida está de bem."

Vamos ver se funciona.

Aconchegante isso. Segunda-feira fria pra caramba. Chegar em casa as oito da noite, tomar um banho quente, jantar na frente da televisão, deitar sob o edredon com um bom livro e dormir cedo. Melhor que isso só se se tornar rotina.

Monday, May 17, 2004

O bolo ainda não está pronto. É bom deixá-lo assar mais algum tempo até que esteja totalmente no ponto. Por fora está OK, mas por dentro aparentemente ainda está cru. Abrir a porta do forno antes da hora fará com que o bolo murche, que o forno esfrie, aumenta a anseidade. Vamos com calma. O perfume adocicado apontará a hora certa de servir.

Tuesday, May 11, 2004

Alguém sabe porque somos doutrinados a aprender a viver sozinhos? Nossos pais anseiam pela nossa independência. Terapeutas ganham a vida re-educando auto-piedosos a superar perdas e a não depender de absolutamente ninguém. Tudo o que se vê por aí são demonstrações de individualismo que acabam revertendo essa mania de independência em solidão.

A vida é passageira. Enquanto buscamos ser fortes sozinhos deixamos de aproveitar momentos de partilha que poderiam nos transformar em pessoas muito, mas MUITO melhores.

Não me entendam mal. Não tenho intenção de ser fração. Quero ser inteiro e encontrar em outra inteira uma companheira de viagem. Não falo de dependência. Em nenhum momento abdicarei das minhas características para adentrar o projeto de vida de alguém. Tampouco falo em complemento. Não quero alguém para me completar. Quero apenas alguém pra compartilhar.

Já falei: a vida é passageira. Ainda assim não vou sair em busca de nada. Não tenho pressa. Vai chegar o momento em que tudo fará sentido, as peças se encaixarão, o amor estará de bem e serei inteiro. Inteiro + uma.

O céu estava em camadas. Vim cedo pro trabalho hoje. Seis e meia eu estava costeando o rio Guaíba pela avenida Beira-Rio. Presenciei pinturas em movimento. Um pequeno barco buscando reconhecimento em meio ao nevoeiro. Vultos de passarinhos enfeitando a cena. E o céu em camadas de azul, preto, laranja e azul celeste. A areia do sono que passeava pelos meus olhos deu lugar a um reconfortante momento de suspiro. Obrigado a quem quer que tenha me proporcionado esta manhã.

Saturday, May 08, 2004

Minha avó, mãe da minha mãe, tá aí em casa essa semana. Veio de Santa Maria visitar e trouxe um jogo de louças muito afudê. Estilo antigo, mais ou menos da década de 40. É um presente pra minha mãe. Mas o que mais me emocionou foi que minha avó ganhou esse jogo de louças do meu avô que morreu quando minha mãe tinha 19 anos.

Nunca conheci meu avô. Ainda assim sinto uma saudade imensa dele. Segundo me falam, ele era um cara totalmente calmo, centrado, absolutamente sereno e de bem com a vida. Tinha amor pelos filhos, apaixonado pela esposa. Trabalhava na rede ferroviária e o dinheiro que tinha era suficiente. Nada sobrando. Simplesmente o suficiente.

Até hoje, nas fotos que vi dele (não são muitas), é como se uma aura de paz, serenidade e bem-estar contornasse seu semblante. E então me dei conta do real motivo de tanta saudade de uma pessoa que nunca conheci: ele é tudo o que eu almejo ser na vida. Quero exatamente aquilo que ele tão involuntariamente transmitia ao posar para uma foto. Quero somente conforto, paz, tranqüilidade.

Janeiro próximo completam 40 anos que sua companhia nos foi trocada pela memória e por um exemplo de vida que há algum tempo passou a ser meta na minha.

Wednesday, May 05, 2004

Faz horas que eu venho me dando conta da quantidade de conselhos que venho recebendo. Acho isso maravilhoso. Em nenhum momento me senti invadido, tampouco senti como se estivessem metendo o bedelho. Tô aqui mesmo é pra ouvir, absorver, aprender e tirar minhas próprias conclusões. Confidencio minhas angústias a quem sinto merecer a confiança. Recebo avisos, conselhos relatos de experiências de vida de vários. Não vejo isso como pessoas "se metendo". Sempre que me perguntam: "Como tu tá?" com preocupação e atenção misturada no semblante, meu cérebro interpreta: "Cara, tô aí pra o que tu precisar."

No meu discurso de formatura (se é que dá pra chamar aquilo de discurso), tentei ressaltar isso. No dia anterior à cerimônia, uma das minhas tias que viajou 600 quilômetros por minha causa me confidenciou ter gasto inúmeras horas pensando no presente ideal. Pronto. Poderia ter parado por ali que aquela frase sozinha já era o presente ideal. Não nos damos conta a quantidade de pessoas preocupadas com a nossa felicidade, com o nosso bem-estar. Pensar nisso de vez em quando proporciona conforto.

Mas tem horas na vida que esquecemos de sentir isso por nós mesmos e temos que adentrar em momentos introspectivos. E por mais que precisemos dos ombros dos amigos, também precisamos que eles entendam esses momentos e respeitem algumas falhas, decisões e atitudes isolacionistas. Às vezes precisamos nos sentir sozinhos pra rever posicionamentos e posturas de vida.

Me identifiquei demais com o texto que um ex-colega de faculdade postou no blog dele. Recomendo a leitura na íntegra, mas vai aí um trecho:

"(...) Eu quero muito saber como anda a vida dos meus amigos. Quero saber das coisas que eles sentiriam constragimento em me contar, mas que precisam contar pra alguém. Que me liguem dizendo "tá foda" ou "tu não vai acreditar na coisa ducaralho que me aconteceu" (...) e é esse tipo de coisa que costumava acontecer com os meus melhores amigos, numa época quando não havia Orkut e quando ficar gastando saliva num deboche constante e vazio do mundo era menos interessante do que trocar idéias rasas e deslumbradas sobre autores existencialistas, quando conversar sobre mulheres tinha outro sabor, com mais medo e fascínio e menos sensualismo agressivo. Meus melhores amigos não deixaram de ser meus melhores amigos, mas é como se a essência dessa amizade estivesse temporariamente engessada. Mas sei que o gesso nunca vai quebrar enquanto existir qualquer crença de que a solução pras nossas necessidades de desabafo e comunicação (com o alívio que apenas a comunicação plena estabelece) está no embotamento dos sentidos, como se um planeta inteiro de seres humanos embriagados e alucinantes fosse se fundir num ser único, onde todas as angústias se neutralizariam. (...)"

Cansei da vida real. Cansei de ver priorizada e propagada a desgraça através da imprensa. Cansei do mundo real. A partir de agora minhas leituras serão romances e poemas. Meus ouvidos relegarão as sirenes e as dissonâncias do cotidiano para priorizar melodias das canções.

Monday, May 03, 2004

Que tal algo diferente? Esquecer que o desconhecido e o novo te assusta. Parar de super-tarefar os neurônios encarregados do receio. Deixar atrofiar os genes do covarde que temem o inesperado e pôr as células responsáveis pela curiosidade e espontaneidade numas sessões de fisioterapia para que recubram seus movimentos.

É por isso que vou experimentar algo novo. Transformar as memórias e todas as minhas recordações em muito mais que do que lamentações e saudade. Por mais óbvio que pareça, percebi que as memórias servem para saber de onde vim, como fui construído e que sou o que sou por causa delas. Cessei essa mania de criar expectativas, pois aprendi que, quando frustradas, é chato e complicado retomar e reformulá-las. Sorte a minha que expectativas e sonhos são coisas diferentes. O nascimento e realização dos sonhos correm paralelamente com o tempo e vão se lapidando conforme os momentos vividos. Isso me leva a tocar esse lado da vida sob o clichê que abomino de que 'tudo tem seu tempo'. Por isso troco as expectativas por sonhos e os cultivo a cada dia que passa. Procuro regar as memórias e reviver os melhores momentos sem nunca esquecer que sou o que sou hoje graças a eles. Daqui pra frente versos de alguma canção nostálgica, certos olores e imagens tatuadas na alma e no coração servirão como alimento para ser mais.

Queria ser poeta. Ser capaz de versificar sensações de dor e prazer. Ter a habilidade de dissolver musicalidade ao cotidiano. Unir os sentimentos às harmonias e melodias que me rondam insistentemente.