POLÍTICA
Fizemos o marketing político de uma candidata à prefeitura da cidade de Montenegro. Perdemos. Na verdade tomamos uma lavada. Três candidatos disputavam a prefeitura e nós ficamos em terceiro com 6 mil votos enquanto o eleito obteve 13 mil e o segundo ficou com 12 mil.
Foi a primeira campanha política com a qual trabalhamos. E, sinceramente, não sei se vale a pena investir tempo e idéias para esse fim. Toda campanha eleitoral é uma disputa por poder. Independente das propostas/índole dos candidatos, o objetivo é sempre chegar ao poder. Poder está a um passo da ganância. E mais do que nunca aprendi que a lei não se aplica a algumas coisas como deveria. Não sou burro. Sei que a constituição é teoria e que na prática é outra história. Mas fui ingênuo ao imaginar que fazendo um trabalho dentro da lei teríamos sucesso.
Recapitulando agora consigo ver as falhas do trabalho com clareza maior. Tanto nossas quanto dos demais envolvidos na campanha. É mais fácil fazer a leitura depois da história já escrita. No meu ver, os três principais motivos para nossa derrota foram, em ordem crescente, os seguintes:
1. Falta de uma imprensa séria na cidade.
Perdemos votos por não haver em Montenegro uma imprensa imparcial e também pela notável falta de qualidade e organização dos responsáveis pelos veículos. Nos programas eleitorais de rádio e TV foram incontáveis às vezes em que a ordem dos programas foi invertida, cortava-se a transmissão quando ainda restavam alguns minutos, fitas com os programas foram extraviadas, etc etc etc. Tivemos também pesquisas manipuladas e matérias tendenciosas. Ao ponto de o editor de um jornal querer ditar para nosso redator o texto do anúncio “a pedido” do dia seguinte. Enfim, uma série de fatos que levou eleitores aos outros candidatos.
2. A inexperiência.
Foi a primeira participação da empresa numa campanha política. Isso contou também para a fuga de alguns votos. Poderíamos ter feito uma campanha visual diferente e mais impactante. Poderíamos ter mudado algumas estratégias no meio quando sentimos que talvez a nossa estivesse errado. Poderíamos ter antevisto alguns problemas que só agora nos são claros. Mas, sinceramente, acho que o que mais pesou da nossa inexperiência foi o fato de termos acreditado que trabalhando dentro da lei, limpo e honesto bastaria. Jogamos limpo do início ao fim. Nossa campanha foi honesta, propositiva e não batemos nos adversários. Além disso, acabamos nos servindo como agentes reguladores dos concorrentes. Entramos com diversos recursos contra ações inconstitucionais dos nossos adversários. Trabalhamos o tempo inteiro com o código eleitoral debaixo do braço e nos certificávamos ali antes de qualquer tomada de decisão. Infelizmente percebemos agora que a disputa pelo poder não se faz de forma limpa. Não se faz somente com propostas. De forma contraditória, fomos políticos demais ao querer fazer jogo limpo e deixamos de jogar o jogo sujo da política. É o país em que vivemos. Nós não espalhamos boatos maldosos sobre adversários, não transportamos eleitores que moram fora de Montenegro para votar, não entregamos cestas básicas para eleitores, não inventamos propostas absurdas. Com certeza perder me entristece, mas a minha consciência está limpa porque sei que perdemos fazendo tudo dentro das regras.
3. A soberba
Acredito com todas as minhas forças que a soberba foi o maior responsável pela nossa derrota. Desde o primeiro minuto em que fincamos pé em Montenegro recebemos a informação de que a nossa candidata era a única que venceria com folga. O povo a amava e a colocaria para governar a cidade sem a menor sombra de dúvidas. E realmente, desde a primeira troca de olhares que tive com a nossa candidata, percebi sua seriedade, sua espetacular índole, altruísmo e boa vontade. Mas ser honesto e competente não bastava. Ninguém se deu muito conta disso. Realmente acreditávamos que a eleição estava encaminhada desde o primeiro momento. Com isso, responsáveis pela captação de recursos para a campanha não se empenharam como deveriam, responsáveis pelo jurídico custaram a iniciar sua atuação, a militância não demonstrou motivação no corpo a corpo. Até mesmo nós fomos contagiados pelo salto alto. Fechamos os olhos para problemas que certamente existiam em algumas peças de comunicação e em estratégias de marketing. Recebíamos a informação de que estávamos bem nas ruas e naturalmente acreditamos que nosso caminho estava correto. A maldita soberba manteve-se até o final. No dia anterior à eleição um dos coordenadores de um dos partidos coligados chegou para mim e disse: "Olha, vamos ter que nos esforçar muito para perder essa eleição". Tu vê só...
Mas no fim das contas, a experiência no marketing político serviu muito. Crescemos, amadurecemos e hoje eu sei que meu lugar é bem longe da política.