Tuesday, October 26, 2004

Do Rubem Braga

Um Braço de Mulher
(...) Talvez fosse até bom sentir um choque brutal e tudo se acabar. A morte devia ser aquilo mesmo, um nevoeiro imenso, sem cor, sem forma, para sempre.
Senti prazer em pensar que agora não haveria mais nada, que não seria mais preciso sentir, nem reagir, nem providenciar, nem me torturar; que todas as coisas e criaturas que tinham poder sobre mim e mandavam na minha alegria ou na minha aflição haviam-se apagado e dissolvido naquele mundo de nevoeiro.(...)


Recortei esse trecho. Outro dia passei por uma situação em que pressenti que seria assaltado. Num lampejo de pensamento, me vi confrontando o assaltante e sendo assassinado. Mas a idéia da morte naquele momento até que me confortou. E pela primeira vez na vida não tive medo de morrer. Evidentemente minha previsão não se fez verdade e eu pude voltar a desfrutar do medo que sempre me habitou. Um medo de não viver. Um receio e uma angústia de confrontar a morte e não vivenciar apoteoses que ainda me estão reservadas nos anos que se seguem.